Não seja ultracrepidário.
Ou: “Sapateiro, não vá além das
sandálias.”
O escritor latino Plínio (o
Velho) conta que havia na Grécia no século IV AC um pintor chamado Apeles que usava
um artifício muito interessante para melhorar suas obras. Quando seus quadros
estavam prontos, Apeles os expunha em frente ao seu ateliê para que os
passantes pudessem observá-los e criticá-los. De posse dos comentários, o
pintor podia melhorar ou até consertar algum erro que pudesse haver.
Certo dia, observou um homem
parado em frente a um dos quadros. Apeles, saindo de seu esconderijo,
perguntou-lhe a razão de tanta curiosidade. O homem então lhe disse que era um
sapateiro e que, por conhecer seu ofício, percebeu um erro na sandália ali
retratada. O pintor agradeceu e disse que consertaria o erro. Tendo percebido
que o pintor acolhera sua crítica, ousou ir adiante criticando outros detalhes
do quadro. Nesse momento o pintor barrou sua impulsividade dizendo: “ne sutor
ultra crepidam”, ou seja, “sapateiro, não vá além das sandálias”. (Em português
atual, diríamos: não seja ultracrepidário)
Há muitos profissionais
intrometendo-se nas especialidades de outros. Médicos opinando sobre educação
de filhos, artistas teorizando sobre filosofia, jogadores de futebol dando
entrevistas sobre relacionamentos, mamães tentando ensinar como educadores
devem fazer uma avaliação e professores fazendo diagnósticos de neurologistas
ou de psiquiatras. Chega!
Quando a “boa vontade em ajudar”
entra no lugar da opinião especializada, muitos erros podem acontecer e muitas
informações superficiais são tomadas como científicas.
Quando pessoas de muita boa
vontade, mas sem conhecer a profundidade dos fatos que envolvem sua vida,
começam a lhe julgar ou opinar sobre o caminho que você deveria seguir, não diga:
“não se meta”, pois pode soar muito grosseiro. Diga apenas: “não seja ultracrepidário”. E se a pessoa não
entender, diga-lhe para pesquisar no google. Com certeza cairá aqui.
Essa e outras reflexões você pode
encontrar no livro “Mediação da aprendizagem na educação especial” dos autores
Gislaine Budel e Marcos Meier. Disponível no site www.kapok.com.br
4 comentários:
Bom dia,
Talvez eu não tenha entendido, mas o nome "Não se meta" dá a impressão de que não devemos opinar nada. Devemos nos calar, pois tem alguém que já tem a resposta certa para o assunto.
Outra interpretação para esta frase é: Não devemos falar nada visto que não dominamos o assunto e devemos deixar para os mais sábio.
Sei que o seu objetivo não é este, pelo contrário, seu objetivo é colher opiniões diversas para entender cada vez mais a mente humana. Esta é a fonte do seu conhecimento. É através de relatos que você sintetiza opinião sábia.
Desculpas se eu não entendi. Abraços
Amigo
Eu adorei o título. Acho que tem muita gente precisando ouvir um curto e grosso 'não se meta'. Para aprender a ter humildade de saber até onde pode ir. Parabéns pela ousadia!
Bom dia,
Essa reflexão é muito pertinente. Vivemos numa época de muitas informações, onde existem muitas ,superficiais, circulando por ai. Não são poucas as pessoas que dão diagnósticos sem saber do que estão falando. Os conhecimentos podem nos ajudam a identificar problemas, e doenças, mas não podemos diagnosticar, a não ser que sejamos da respectiva área, do contrário seremos ultracrepidários, e um " não seja ultracrepidário" ( ou, não se meta) é merecido.
Belíssima explicação. Pesquise e não achei nenhum sinônimo ou antônimo. Não é uma palavra muito utilizada.É toda que fosse dita teria que dar explicações. Teria outras formas de pedir para que não se meta, e vá procurar o que fazer? 😊
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