Boa noite!
Quero iniciar
minha fala cumprimentando a excelentíssima sra. Noêmia Rocha presidente
desta mesa, o vereador Jair César proponente dessa titulação e a todas
autoridades aqui presentes, já nomeadas.
Em especial
agradeço a presença de todos vocês que vieram me honrar com sua companhia. Essa
noite só é linda porque você está aqui.
Me
orientaram a ser breve, e apesar disso ser uma tortura pra mim, vou ser. Vou
fazer o máximo para cumprir o prazo. Escrevi esse discurso no dia 12 de 12 de
2012 e tem aproximadamente 12 minutos. E isso não tem nada a ver com o fim do
mundo. (Coisas de matemático).
Vou
contar-lhes uma pequena história vivida por meu avô, o vovô José, pai da
Jane, minha mãe coruja que a vida toda me apoiou e torceu pelo meu
sucesso como pessoa e como profissional. (Obrigado mãe).
Meu avô
tocava violino na igreja luterana da cidade de Imbituva, interior do Paraná.
Por mais de 30 anos nunca faltou a nenhum dos cultos e a nenhum dos ensaios.
Para homenagear tal atitude e disposição, a comunidade da época resolveu
presenteá-lo com um corte de terno. Era um presente caríssimo, de muito bom
gosto e que, com certeza, seria recebido como honra pelo “seu José”. Mas
a surpresa foi grande. No dia seguinte à homenagem, meu avô foi até a loja, pesquisou
o preço, e na próxima reunião devolveu cada centavo à comunidade. Disse:
- Que
esse dinheiro seja melhor usado para as crianças pobres ou para outras
necessidades que a igreja possa ter. Não aceito essa recompensa, pois nunca
toquei violino para vocês, foi para Deus. E se vocês me recompensarem agora,
que recompensa terei eu no céu?
Agradeceu o
carinho das pessoas, mas devolveu o presente. Não aceitou a honra.
Muitas
pessoas não entenderam, algumas acharam que ele era um arrogante, um
mal-agradecido. Outras compreenderam a profundidade do gesto. Nosso trabalho
deve ser para Deus, para o bem comum, para a sociedade, para diminuir a miséria
da existência humana e não para nossa honra ou nossa glória. Não para nós
mesmos. Então, caros vereadores e cara plateia, quero lhes dizer que hoje,
nesse momento especial em que desejam me outorgar o título de cidadão honorário
de Curitiba, eu, lembrando do meu avô,
digo que: ... aceito de coração aberto e grato essa honra e que nem tudo o que
nosso avô faz a gente tem que fazer igual. Não vou devolver esse presente, não!
Na verdade,
o ensinamento que ele deixou eu tenho tentado seguir: fazer tudo como se fosse
para Deus e não para nós mesmos.
Tenho em meu
trabalho tentado simplificar os conceitos teóricos da educação e da psicologia
para que pessoas de todas as formações e até aquelas que nenhuma formação têm,
possam aprender e melhorar a interação com as crianças, com os estudantes, e
uns com os outros. Não é tarefa fácil, mas faço com o coração feliz e realizado
por saber que, como meu avô, posso trabalhar sem pensar na recompensa terrena,
mas me alegrar com o crescimento das pessoas nas mais diferentes cidades de
nosso país, especialmente em Curitiba.
Sou grato
também a meu avô paterno que decidiu morar em Rolândia, onde nasci tempos
depois. Ainda criança moramos em cidades do interior do Paraná como Japurá,
Cianorte, São Tomé e Imbituva de onde saí com dez anos de idade para vir para a
capital que me acolheu e me deu as oportunidades para meu crescimento
profissional.
Agradeço a todas
as pessoas que direta ou indiretamente me ajudaram, incentivaram e me apoiaram.
Tive meus vales e montanhas, como a Gilgreice cantou e que mesmo neles a
presença divina me confortava.
Iniciei como
professor de Matemática e nas aulas da licenciatura perguntava: “professor, por que os alunos amam
matemática enquanto outros odeiam?” E a resposta que ouvi foi: “amor
e ódio é da psicologia, não da matemática”.
Fiz
psicologia. Lá, os professores me diziam: “gostar de aprender matemática é do campo da
educação, não da psicologia”.
Fiz mestrado
em educação. Perguntei: “Por que alguns amam matemática e outros
odeiam? Os professores de matemática disseram que a psicologia responderia, os
psicólogos disseram que os educadores responderiam, então pergunto a vocês o
porquê.” Os professores do mestrado me disseram: “boa
pergunta”! Tive que tirar minhas próprias conclusões. E uma delas é a
de que o professor que sabe ser amigo, que exerce sua autoridade com
acolhimento e justiça, que sabe rir dos próprios erros, e é bem humorado, que
ama o que faz, esse ajuda o aluno a amar o que é ensinado. O mesmo acontece com
os pais em relação a seus filhos. O contrário afasta.
Tenho
tentado ajudar as pessoas a amarem o conhecimento, os princípios de educação, a
respeitar a filosofia e a ética, a buscar a sabedoria. Tenho tentado ajuda-las
a aprender a aprender. E quando não mais precisarem dos meus ensinamentos, é porque
se tornaram autônomos, independentes e terei me tornado dispensável. Quando
olho para meus filhos e vejo o quanto já não mais dependem de mim, o quanto
pensam por suas próprias cabeças, fico feliz por ter cumprido meu papel. E mais
feliz ainda por ver que tipo de homens e que tipo de mulher se tornaram. Martin
e David, obrigado por terem feito minha vida de pai ter valido a pena. A Rebecca,
que está longe, em trabalho social numa missão internacional, também me faz relembrar
que pessoas valem mais que coisas, que a vida vale mais que dinheiro e que tudo
isso pode sim ser colocado em prática como ela está fazendo.
Mas nem tudo
é tão bonito e nem tudo é tão aparentemente perfeito. Sofri muito para
acreditar que um dia eu pudesse ser alguém, que poderia ajudar outras pessoas
ou que minha vida pudesse ser útil para quem quer que fosse. Na escola, antes
do bullying ser conhecido por esse nome, eu era chamado diariamente de “pau
de catar laranja, espanador de lua, urubu branco, perna de vela” e mil outros xingamentos constantes que me
traziam dor e ideias suicidas. A vida não tinha graça e era pesada demais para
mim. Não é fácil ser adolescente, mas mais difícil ainda é ser adolescente
muito alto, muito magro, muito branco e muito burro pra acreditar que isso
fosse importante. Por sorte, eu tinha irmãos que me amavam, (Jeff, John,
Audrey e Kennedy – como vocês podem ver, minha mãe gostava muito de ir ao
cinema) mãe, tia e avó que me bajulavam,
me valorizavam e eu comecei a duvidar dos xingamentos. Comecei a acreditar que
talvez eu pudesse dar certo na vida. Meu pai me falava: “você nunca vai me dar problema
na escola, vai passar direto, dá pra ver”. E eu acreditei.
Nos últimos
anos tive ajuda de algumas pessoas especiais a quem também sou grato como a
Márcia Macionk e David Sasson que me abriram as portas para entender Feuerstein
e a mediação da aprendizagem, o jornalista José Wille que me abriu as
primeiras portas na mídia, a Adriana Karan do colégio OPET que me
contratou pela primeira vez como professor, o Odilon Scroccaro que me
contratou no colégio Santa Maria que investiu em minha formação profissional, a
psicopedagoga Isabel Parolin que sabendo do meu dom para falar em
público me apresentou ao Marcos Melo da Futuro Eventos onde estou até
hoje palestrando. Há muitas outras pessoas que direta ou indiretamente foram
importantes para mim, mas que não tenho tempo para nomeá-las agora. Mesmo
assim, sou grato a elas.
Hoje estou
aqui com uma carga enorme de histórias de sucesso, de fracasso, de alegrias, de
tristezas e de realizações. E quando eu estava sobrecarregado, caminhando para
uma estagnação pessoal, imerso numa solidão profunda que a vida me trouxe, veio
a Jeanine Rolim, hoje minha noiva, e ficou ao meu lado. Ela me
reapresentou para o Marcos neto do vovô José, filho da dona Jane,
pai do Martin, da Rebecca e do David. Reapresentou-me para
mim mesmo e me fez relembrar que posso me realizar sem culpa em aparecer na TV
ou no rádio para ensinar sem medo de parecer orgulhoso, arrogante ou
prepotente, pois sei que a honra e a glória não são méritos meus, são de Jesus.
E que reconhecer que sou importante na vida das pessoas não é ser metido,
estrela ou celebridade, é cumprir a missão para a qual todos nós viemos. E por
isso posso dizer do fundo do meu coração:
Curitiba,
obrigado pelo carinho de me adotar como um de seus filhos e a todos vocês, do
fundo do meu coração, muito obrigado!
Discurso de Marcos Meier na sessão especial da Câmara dos
vereadores de Curitiba para outorga do título de cidadão honorário no dia 13 de
dezembro de 2012, às 20h00 nas dependências da própria instituição.
3 comentários:
Homenagem merecida. Belo discurso. Parabéns por sua filosofia de vida, que é também a minha. Um abraço do professor Sandro Zanon.
Eu como saiu o discurso de 12 minutos esse dia onde coincidiram todos esses números?
Eu nunca tive que um discurso mas sim uma palestra sobre cirurgia plastica em curitiba esse mesmo dia e por boa sorte tudo saiu perfeito!
O discruso mais belo (e verdadeiro) que já ouvi, do homem mais incrível que já conheci :)
Amo-te.
Nina
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